PUC Rio – Instituto de Direito / Central de Cursos de Extensão CCE
PUC Rio
CURSO DE EXTENSÃO DELEUZE E GUATTARI FILOSOFIA PRÁTICA VI
PENSAR POLÍTICA
Coordenação acadêmica: Mauricio Rocha [Direito PUC Rio]
Modalidade: On-line pela Plataforma Zoom < https://zoom.us/pt-pt/meetings.html >
Aulas ao vivo on-line que serão gravadas e ficarão disponíveis para
os inscritos.
Complemento didático com arquivos de áudio (podcasts) sobre temas relativos às aulas.
Recursos na rede (obras, fortuna crítica, vídeos etc.)
Curso Deleuze & Guattari filosofia prática <http://criticaeclinica.blogspot.com>
Dossiê Deleuze & Guattari <http://dossiedg.blogspot.com>
Objetivo
Propor uma série estudos sobre
as obras de Gilles Deleuze (1925-1995) e Félix Guattari (1930-1992), que
conjugam de modo original e provocativo domínios variados do saber: das
matemáticas à economia política, da antropologia à psicanálise, da política ao
direito, das artes plásticas e cinema à literatura.
O projeto
Uma das noções norteadoras do
pensamento de Deleuze e Guattari é a de que uma filosofia política que se
preze, hoje, deve estar centrada na análise do capitalismo e de seus
desenvolvimentos. O interesse por Marx, por parte dos autores de O Anti-Édipo (1972) e Mil platôs (1980), é a análise do
capitalismo como sistema imanente que se reproduz sempre em escala crescente,
incorporando inclusive as forças produtivas que se constituem, originalmente, à
sua margem e, no mais das vezes, em resistência a ele. Se essa análise,
contudo, desloca a si mesma em relação ao debate marxista, é porque soube criar
novos conceitos para pensar a singularidade da experiência política da Europa
pós-68. Entre eles, o conceito de linha de fuga (ao invés de contradição) para
explicitar os movimentos constitutivos de cada sociedade para além dos regimes
jurídicos e institucionais que visam a uniformização e o regramento da vida
social. Além disso, o conceito de classe dá lugar ao de minoria, que não se
define pelo número, pois ela pode ser mais numerosa que uma maioria. Esta se
apresenta como um modelo que procura se impor como norma, enquanto a minoria é
antes um processo que uma adequação ao mesmo (modelo): a minoria é um
devir-outro, uma ruptura com o mesmo e uma abertura para o novo como processo
de criação. O debate político que se propõe se define a partir de uma filosofia
prática e passa pela produção de sentido, antes que pela decifração do real.
Decifrar o real é encontrar o sentido como dado a priori que já comporta em si
um esquema de valores estabelecidos que justifica o real tal como ele é,
levando a esquivar-se diante da miséria, resignar-se diante do intolerável. O
que se propõe é um pensamento que, na apreensão mesma do intolerável, responda
enfaticamente através da produção de novos sentidos e valores, numa prática que
renuncie a toda política de compromisso com os valores vigentes que resultam na
imensa fabricação da miséria humana, material e espiritual. Em suma, a
filosofia de Deleuze e Guattari se apresenta como aliada daqueles que se somam
no esforço de pensar, não apenas pela força de seus conceitos, mas também por
enfatizar que o pensamento se define enquanto atividade criadora, que não pode
ser descolada do mundo que se põe a pensar sem correr o risco de deslizar para
ideias gerais pré-concebidas e inócuas. Assim, o pensamento se afirma enquanto
prática imanente decorrente das forças da experiência vivida em sua
singularidade – pois não há filosofia que não seja filosofia política [Sandro Kobol
Fornazari, Doutor em Filosofia, USP; professor do Departamento de Filosofia da
UNIFESP]
Pensar a democracia, os direitos e o Capitalismo
Viviana Ribeiro
Doutoranda em Teoria do Estado
e Direito Constitucional, PPG Direito PUC Rio; mestra em Filosofia, PPG
Filosofia UFF; graduada em Direito, IBMEC-RJ; Coordenadora e professora do IPIA
– Comunidade de Pensamento.
Os mal-entendidos a respeito do
pensamento filosófico político de Deleuze e Guattari vão desde a perspectiva
que exclui o caráter político das obras, até a acusações de que os autores
seriam “anarcoliberais”. Certamente tais críticas não alcançam a dimensão radical
da análise política realizada pela dupla, afinal de contas se após a Segunda
Guerra Mundial os poderes hegemônicos se rearticulam em defesa dos Direitos
Humanos como “única possibilidade de paz” e o desejo por uma refundação
democrática reaparece como “a democracia é a pior forma de governo com exceção
de todas as demais”, como poderiam Deleuze e Guattari dizer: “como se observou
frequentemente, os estados democráticos são ligados de tal maneira, e
comprometidos com os Estados ditatoriais que a defesa dos direitos do homem
deve necessariamente passar pela crítica interna de toda democracia.”? ou: “Os
direitos do homem não nos farão abençoar o capitalismo.”? Ou quando formulam,
que a democracia é o regime da maioria, do numerável, e assim constituem a
axiomática, que tipo de democracia é possível pensar a partir do menor? O
pensamento filosófico político de Deleuze e Guattari trata, antes de tudo, de
colocar em xeque um regime de direitos, de Estado e de democracia que assume
“compromissos vergonhosos com o capitalismo”, pois estão todos relacionados de
forma intrínseca e imanente. Se trata, pois, de trazer, para o centro da
análise filosófica, a análise do capitalismo. Daí ser necessário o exame sobre
a questão democrática e a análise do capitalismo em Deleuze e Guattari –
abordando os conceitos de “maior”, “menor”, “devir”, forma Estado, etc.
Cronograma
Aula 1. A questão do Estado -
Deleuze & Guattari e Marx
Bibliografia
O que é a filosofia? [“Se não há
Estado democrático universal, malgrado o sonho de fundação da filosofia alemã,
é porque a única coisa que é universal no capitalismo é o mercado. [...] Os
Estados nacionais não são mais paradigmas de sobrecodificação, mas constituem
os "modelos de realização dessa axiomática imanente. Numa axiomática, os
modelos não remetem a uma transcendência, ao contrário. É como se a
desterritorialização dos estados moderasse a do capital e fornecesse a este as
reterritorializações compensatórias, Ora, os modelos de realização podem ser
muito diversos (democráticos, ditatoriais, totalitários...), podem ser
realmente heterogêneos, não são menos isomorfos em relação ao mercado mundial,
enquanto este não supõe somente, mas produz desigualdades de desenvolvimento
determinantes” (p. 128)]; Mil Platôs, Platô
12 ["Problema II: Existe algum meio de subtrair o pensamento ao modelo de
Estado?" (p. 45)]; Platô 13 [Proposição XI: O que vem primeiro? (p. 124);
Proposição XII: Captura (p. 139); Proposição XIII: O Estado e suas formas]
Aula 2. Democracia e direito – “Os
direitos humanos não nos farão abençoar o Capitalismo”.
Bibliografia
O que é a filosofia? ["É por
isso que, como se observou frequentemente, os estados democráticos são ligados
de tal maneira, e comprometidos com os Estados ditatoriais que a defesa dos
direitos do homem deve necessariamente passar pela crítica interna de toda
democracia [...] Não somente nossos Estados, é cada um de nós, cada democrata,
que se acha, não responsável pelo nazismo, mas maculado por ele. Há catástrofe,
mas a catástrofe consiste em que a sociedade de irmãos ou de amigos passou por
uma tal prova que eles não podem mais olhar um para o outro, ou cada um a si
mesmo, sem uma "fadiga", talvez uma desconfiança que se tornam
movimentos infinitos do pensamento, que não suprimem a amizade, mas lhe dão sua
cor moderna, e substituem a simples "rivalidade" dos gregos. [...].
Os direitos do homem são axiomas: eles podem coexistir no mercado com muitos
outros axiomas, especialmente na segurança da propriedade, que os ignora ou
ainda os suspendem, mais do que contradizem [...]. Quem pode manter e gerar a
miséria, e a desterritorialização-reterritorialização das favelas, salvo
policiais e exércitos poderosos que coexistem com as democracias? Que
social-democrata não dá a ordem de atirar quando a miséria sai de seu
território ou gueto? Os direitos não salvam nem os homens, nem uma filosofia
que se reterritorializa sobre o Estado democrático. Os direitos do homem não
nos farão abençoar o capitalismo." (pp. 128 e 129)]
Aula 3. O fracasso de todas as
revoluções – o problema da duração da criação do novo
Bibliografia: Dois regimes de Loucos, “Maio de 68 não teve lugar”; Diálogos, “Políticas”; Conversações, “Controle e Devir”; Sobre o Teatro, “O Esgotado”.
Aula 4. “A vergonha de ser um homem”
- Por que Primo Levi escreve literatura?
Bibliografia: O que é a filosofia?, “Geofilosofia”; Crítica e Clinica, “Literatura e Vida”; Primo Levi, É isto um homem?, Os afogados e os sobreviventes.
Aula 5. Se a democracia é o regime
da maioria, de que democracia que estamos falando? A democracia do menor e da
diferença - Deleuze & Guattari e Virginia Woolf
A questão da linguagem; língua menor
que invoca o povo que falta; o direito e a diferença: A representação jurídica
captura a diferença; O problema da criação e duração de direitos é uma questão
de expansão da democracia e não afirmação da identidade, reconhecimento,
vulnerabilidade etc.
Bibliografia: Mil Platôs, Platô 13 [Proposição XIII: O Estado e suas formas;
“(...) Os constituintes da nação são uma terra, um povo: “natal” que não é
forçosamente inato, “popular” que não é forçosamente dado. O problema da nação
se exacerba nos dois casos extremos de uma terra sem povo ou de um povo sem
terra. Como fazer um povo e uma terra, ou seja, uma nação – um ritornelo? Os
meios mais sangrentos e os mais frios concorrem aqui com arrojos do romantismo.
A axiomática é complexa e não lhe faltam paixões. É que o natal ou a terra,
como já vimos, implica uma certa desterritorialização dos territórios (lugares
comunais, províncias imperiais, domínios senhoriais, etc.), e o povo implica
uma descodificação da população. É sobre esses fluxos descodificados e
desterritorializados que a nação se constitui, e não se separa do Estado
moderno que dá uma consistência à terra e ao povo correspondentes. É o fluxo de
trabalho nu que faz o povo, como é o fluxo de Capital que faz a terra e seu
equipamento. Em suma, a nação é a própria operação de uma subjetivação
coletiva, à qual o Estado moderno corresponde como processo de sujeição. É bem
sob essa forma de Estado-nação, com todas as diversidades possíveis, que o
Estado devém modelo de realização para axiomática capitalista, o que de modo
algum equivale a dizer que as nações sejam aparências ou fenômenos ideológicos;
ao contrário, as nações são as formas viventes e passionais onde primeiro se
realizam a homogeneidade qualitativa e a correspondência quantitativa do
capital abstrato”. (MP, vol. 5 da ed.
bras., p. 167); Mil Platôs, Platô 4; Dois Regimes de Loucos, textos 17, 26,
34, 48 Virginia Woolf, Três Guinéus, Memórias de uma guilda de operárias.
Materiais na rede
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Pensar o fascismo – O problema do fascismo na filosofia política de
Deleuze e Guattari
Frederico Lemos
Doutorando em Filosofia, PPG
Filosofia UFF; Mestre em Filosofia, PPG Filosofia UFF; graduação (licenciatura)
em Ciências Sociais, UFF. Membro do grupo de pesquisa “Deleuze: variações,
intensidades e ressonâncias” (DEVIR) do CNPq, membro do GT Deleuze vinculado à
Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF) e do Círculo de
Leitura Spinoza e a filosofia / Niterói.
Qual é o tratamento teórico
dado ao fascismo nos dois tomos de Capitalismo
e Esquizofrenia , de Deleuze e Guattari? Para eles, o conceito de fascismo
não se reduz a uma experiência historicamente determinada, a uma forma de
Estado ou a uma maneira específica de governar, mas se define pela conversão de
uma “linha de fuga” mutante em “linha de abolição” pura, que faz da guerra seu
único objetivo, e implica todo o Estado em uma dinâmica “suicidária”. O que
está em jogo nesta definição da experiência fascista? Propomos, neste curso,
apresentar a teoria deleuzo-guattariana do fascismo como fenômeno
micropolítico, que engloba desde a exposição dos dois polos do desejo em O
anti-Édipo (1972) até a criação do conceito de “microfascismo” em Mil platôs
(1980). Ao fim e ao cabo, perguntamos: qual é o efeito prático de definir o
fascismo por sua dinâmica micropolítica?
Aula 1: “Por que os homens
combatem por sua servidão como se fosse sua salvação?”: o problema fundamental
da filosofia política
Textos: Deleuze &
Guattari, O Anti-Édipo, cap.1; Espinosa. “Prefácio” ao Tratado Teológico-Político.
Aula 2: O perigo das derivas
fascistas: dos dois polos do desejo aos três tipos de linhas
Textos: Deleuze &
Guattari, O Anti-Édipo, cap.4; Deleuze & Guattari, Mil platôs,
Platô 9.
Aula 3: Macropolítica e
micropolítica do fascismo
Textos: Deleuze &
Guattari, Mil platôs, Platô 9; Diálogos, “Políticas”.
Aula 4: Como combater o fascismo?
A potência das minorias e o problema da consistência
Textos: Deleuze &
Guattari, O Anti-Édipo, cap.4; Deleuze & Guattari, Mil Platôs,
Platôs 6, 9 e 11; Guillaume Sibertin-Blanc, “Deleuze et les minorités: quelle
‘politique’?”, Cités, n° 40.
Bibliografia
DELEUZE, Gilles &
GUATTARI, Félix. O Anti-Édipo :
capitalismo e esquizofrenia 1. São Paulo:
Editora 34, 2011.
DELEUZE, Gilles &
GUATTARI, Félix . “Micropolítica e segmentaridade”. In : ______. Mil Platôs :
capitalismo e esquizofrenia 2, vol. 3. São Paulo: Editora 34, 2012. pp. 91-125.
DELEUZE, Gilles & PARNET,
Claire. “Políticas”. In : ______. Diálogos
. São Paulo: Escuta, 1998.
ESPINOSA, Baruch de.
“Prefácio”. In :______. Tratado
Teológico-Político . São Paulo: Martins
Fontes, 2003.
FOUCAULT, Michel. “O
Anti-Édipo: uma introdução à vida não fascista”. Cadernos de Subjetividade /
v. 1, n. 1. São Paulo: PUC-SP,
1993. pp. 197-200.
GUATTARI, Félix.
“Micropolítica do fascismo”. In : ______. Revolução
molecular : pulsações
políticas do desejo. São Paulo: Brasiliense, 1985. pp. 173-190.
REICH, Wilhelm. Psicologia de massas do fascismo. São
Paulo: Martins Fontes, 2001.
SIBERTIN-BLANC, Guillaume.
“Deleuze et les minorités: quelle ‘politique’?”. Cités, n° 40, Paris,
PUF, 2009/4, pp. 39-57.
SIBERTIN-BLANC, Guillaume.
“Philosophie politique et clinique du micro-fascisme”. In :______.
Politique et clinique : recherche sur la philosophie pratique de
Gilles Deleuze.
Tese (Doutorado em
Filosofia). Université Charles
de Gaulle Lille 3, Lille, 2006. pp. 913-948.
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Pensar a
multiplicidade
Marcus Vidal
Doutorando em Filosofia, PPG
Filosofia PUC Rio; Mestre em Filosofia, PUC Rio e licenciatura em Filosofia,
UERJ; Professor de Filosofia no Ensino Médio, Secretaria de Educação do Estado
do Rio de Janeiro; membro do Círculo de Leitura Spinoza e a filosofia / Rio
No prefácio da edição italiana
de Mil Platôs, em um tom de
justificativa frente ao Anti-Édipo,
Deleuze e Guattari definem o caráter do segundo tomo de Capitalismo e Esquizofrenia: “É uma teoria das multiplicidades por
elas mesmas, no ponto em que o múltiplo passa ao estado de substantivo...”. Passada
a obra de Deleuze em revista, o compromisso com uma filosofia das
multiplicidades já ostenta uma posição privilegiada nos fins de 60, notadamente
em dois registros fundamentais: o de sua “emergência”, no trabalho monográfico
sobre Bergson e o de uma posição propriamente “autoral” das multiplicidades, em
Diferença e Repetição. Em primeiro lugar, pretendemos reconstituir a
base metafisica e teórica das multiplicidades presente na obra de Deleuze – o
que sob uma ótica das multiplicidades esclarece e articula uma série de
conceitos centrais: singularidade, criação, acontecimento, individuação, entre
outros. Depois, em Mil Platôs,
exploraremos o modo como os dois autores investem o conceito no campo
prático-político, atravessando os mais variados temas: o “molecular” e o “molar”;
o “maior” e o “menor” (minorias); a “máquina de guerra” e o aparelho de Estado;
os microfascismos e o fascismo de Estado.
Indicações de leitura
1) Uma caracterização das
multiplicidades
A Crítica aos falsos problemas
e o estatuto substantivo das multiplicidades
Texto chave: Bergsonismo
Texto auxiliar: “A concepção
da Diferença em Bergson” in Bergsonismo.
2) O processo criador:
Diferença, singularidade e acontecimento.
A relação entre o virtual e o
atual: individuação e atualização.
Texto chave: Diferença e Repetição (caps. 4 e 5)
Textos auxiliares: “O método
de dramatização”; “Gilbert Simondon, O
indivíduo e sua génese físico-biológica” in A ilha deserta e outros textos; Diálogos.
3) Os princípios das
multiplicidades.
A distinção entre rizoma e
árvore.
Texto-chave: Mil Platôs, Platô 1, “Rizoma”
Texto auxiliar: Mil Platôs, Platô 2, “1914 - Um só ou
vários lobos”
4) Pensar o corpo: as
dimensões cinética e dinâmica do corpo.
O que é a imanência: plano de
imanência x plano de transcendência.
Texto chave: Mil Platôs, Platô 10. “1730 Devir-intenso,
Devir-animal, Devir-imperceptível”.
Textos auxiliares: “Espinosa e
nós” in Espinosa filosofia prática e Espinosa e o Problema da Expressão.
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Questões políticas no “primeiro Deleuze”
Rafael Becker
Doutor em Teoria do Estado e Direito Constitucional,
PPG Direito PUC-Rio (com período de estudos na Universidade Paris VIII).
Nossa proposta consiste em
retornar aos textos do “primeiro Deleuze”, produzidos entre 1953 e 1967. Iremos
vasculhar e recuperar as elaborações conceituais do período, muitas das quais
chegaram praticamente intactas à década de 1990, como no livro O que é a
filosofia?, assinado em conjunto com Guattari. Para isso, será fundamental
visitar as monografias publicadas sobre Hume, Kant, Nietzsche e Bergon, além
dos estudos dedicados a Sade, Masoch e Proust. Daremos especial atenção às
formulações políticas que vão surgindo no emaranhado desse corpus textual.
Aula 1
Panorama geral da obra do
“primeiro Deleuze” e introdução sobre os seus métodos de leitura. Os conceitos
centrais presentes na monografia sobre Hume (Empirismo e subjetividade,
1953): a imaginação, a natureza humana e a instituição. Notas sobre a chamada
“teoria do artifício” no campo social. A importância da contraposição entre
Hume e Kant (A filosofia crítica de Kant, 1963) na formação deleuziana.
Aula 2
Apresentação do grande
esquema conceitual que Deleuze extrai da obra de Nietzsche (Nietzsche e a
filosofia, 1962; Nietzsche, 1965). Os elementos de uma teoria das
forças: vontade de potência, composições e eterno retorno. O triunfo dos
fracos. Avaliação e interpretação como duas operações políticas fundamentais.
Aula 3
A leitura deleuziana de
Bergson (O bergsonismo, 1966). Longa elaboração dos conceitos de atual e
virtual. Chegar até o elã vital. As noções de “problema” e “possível”.
Ressonâncias entre Bergson e Proust (Proust e os signos, 1964). O chamado
“empirismo superior” em Bergson e Nietzsche.
Aula 4
O livro sobre Sade e Masoch (Apresentação
de Sacher-Masoch, 1967). A comicidade da lei. Contrato masoquista e
instituição sádica. Apresentação final sobre as questões políticas no “primeiro
Deleuze”: em torno da instituição, à margem da lei e os problemas éticos.
Bibliografia
Gilles Deleuze, Empirismo e subjetividade [1953], S. Paulo: Editora 34, 2001.
__________, A filosofia crítica de Kant [1963], B. Horizonte: Autêntica, 2018.
__________, Nietzsche e a filosofia [1962], S. Paulo: Editora n-1, 2018.
__________, Proust e os signos [1964], Rio de Janeiro: Forense Universitária,
1987.
__________, Nietzsche [1965], Lisboa: Edições 70 s/d.
__________, O Bergsonismo [1966], S. Paulo: Editora 34, 1999.
__________, Apresentação de Sacher-Masoch [1967], Rio de Janeiro: Livraria Editora
Taurus, 1983.
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Pensar política
Maurício Rocha
Doutor em Filosofia, PUC Rio;
Docente do Departamento de Direito, PUC Rio; Coordenador do Círculo de Leitura
Spinoza e a filosofia / Rio e Niterói.
“Félix Guattari e eu permanecemos sempre
marxistas, talvez de dois modos diferentes, mas permanecemos os dois. Não
acreditávamos numa filosofia política que não fosse centrada na análise do
capitalismo e de seus desdobramentos. O que mais nos interessa em Marx é a
análise do capitalismo como sistema imanente, que não deixa de repelir seus
próprios limites, e que os reencontra sempre numa escala maior, porque o limite
é o próprio Capital”.
O
pensamento político de Deleuze e Guattari costuma ser negligenciado em favor de
análises que separam seus enunciados filosóficos de suas implicações (macro)
políticas, em um processo de elisão que não deixa de ser sintomático sobre a
recepção do pensamento de ambos. Com isso, se desfaz uma característica
do agenciamento Deleuze-Guattari, que é a supressão das fronteiras
entre filosofia, estética e política – quando simplesmente não se ignora a trajetória
teórica, política e institucional de Guattari e sua contribuição ao trabalho
conjunto. Pois a obra elaborada em comum voltou-se para uma série de problemas
contemporâneos cruciais, como os vínculos entre processos econômicos e as
estruturas de poder social e estatal, de um ponto de vista geoeconômico,
geopolítico – em uma economia política que não descuidava
da economia libidinal e vice-versa. E quando
certos problemas (a crítica à psicanálise, a forma-Estado, a
soberania, a relação entre violência e direito, a guerra, os usos da etnografia
e da arqueologia, da história das técnicas e das ciências etc.), e conceitos
(como desejo, máquina, agenciamento, desterritorialização, devires,
plano de consistência, Corpo sem Órgãos etc.) são dissociados dessa
perspectiva, nos arriscamos a exercícios de abstração que levam a inúmeros
contrassensos sobre a originalidade da obra de ambos. Propomos aqui um percurso
sumário da constituição do pensamento político da dupla.
O método e o “spinozismo político” de Gilles Deleuze e Felix Guattari
(a lógica da potência)
Textos de referência: Bergsonismo, capitulo 1; O Anti-Édipo, cap. III, Mil Platôs, Platôs 9, 12 e 13; Espinosa e o Problema da Expressão, Parte
I e cap. XVI; Espinosa filosofia prática, cap. VI.
A forma Estado como
“delírio da ideia”
Textos de referência: O Anti-Édipo, cap. III, Mil Platôs, Platôs 9, 12 e 13; Crítica e clínica, Cap. VI, XV, XVI.
Instituição / Contrato;
Dívida / Troca; Máquina de guerra / forma
Estado
Textos de referência: “Instintos
e instituições” in A ilha deserta e
outros textos; Presentação de
Sacher-Masoch; “Post scriptum sobre as sociedades de controle” in Conversações; Mil Platôs, Platôs 12 e 13; F. Nietzsche, Genealogia da Moral, Segunda Dissertação; Pierre Clastres, A sociedade contra o Estado.
Uma geopolítica da filosofia, uma geofilosofia política (Imagem do
Pensamento, Rizoma, Noologia)
Textos de referência: Nietzsche e a Filosofia, cap. 3, 15;
Proust e os signo, conclusão;
Diferença e repetição, cap. III; Mil Platôs, “Rizoma”; O que é a filosofia, “Geofilosofia”.
Capitalismo & esquizofrenia
Textos de referência: O Anti-Édipo, cap. III; Mil Platôs, Platôs 9, 12 e 13; Diálogos, “Políticas”; Cinema 2 – A imagem tempo, cap. 8, “Cinema,
corpo, cérebro, pensamento”; Foucault, “Um
novo cartógrafo”; “Anexo”.
Psicanálise e transversalidade; Micropolítica
– cartografias do desejo.
Materiais na
rede
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