A psicologia, mesmo sendo uma
ciência humana de origem recente, se colocou como uma atividade constitutiva da
contemporaneidade. Dos estudos sociológicos ao desenvolvimento da medicina
moderna, o diálogo com a psicologia se tornou incontornável. Não há como pensar
a realização humana com rigor, sem recorrer às reflexões que a psicologia fornece
sobre a psique humana. E de todas essas interlocuções, talvez a mais fecunda e
mais instigante, seja a da psicologia com a filosofia.
Deste diálogo profundo, surge uma
corrente da psicologia contemporânea alicerçada no estuda das relações humanas
com o mundo: psicologia de origem fenomenológica ou mais simplesmente psicologia
existencial. Diante de tanta devastação provocada pela guerra, surge uma
corrente da psicologia que defendia uma redefinição do ponto de partida de tal
ciência, ou seja, uma outra abordagem da realização humana. Assim, a dimensão
relacional salientada pela fenomenologia, bem como a noção de liberdade
engajada defendida pelo existencialismo serviram como inspiração para os
teóricos desenvolverem aquilo que se convencionou chamar de terceira força em Psicologia.
Neste curso. Pretende-se
apresentar este itinerário que parte da filosofia e que resulta na
possibilidade de um novo fazer clínico. A começar por Brentano e sua psicologia
descritiva. De origem empirista, o pensador alemão é o primeiro a se concentrar
nos fenômenos psíquicos como fonte de conhecimento. A base de seu trabalho era
estudar as relações que se formam entre a consciência humana e o objeto visado,
conferindo rigor e autonomia à psicologia, ultrapassando os limites anteriores
da genética e da fisiologia.
Será justamente um aluno de
Brentano, o filósofo Edmund Husserl, que dará continuidade a este processo de
centramento nas relações constituintes com a Fenomenologia. Extrapolando os
limites do empirismo, Husserl, através da noção de intencionalidade, recoloca a
relação da subjetividade e mundo sob o primado do fenômeno. A partir da
fenomenologia, não há mais que se falar em sujeito e mundo, apartados um do
outro. Um outro caminho é aberto na psicologia em que a subjetividade e a
realidade passam a estar entrelaçadas.
Será com o pensador francês Jean-Paul
Sartre que a psicologia encontrará um novo aprofundamento nas relações humanas.
Não mais distinguindo limites para a condição humana, Sartre expandirá seu trabalho
para o que chamou de existência. A partir de um conjunto de reflexões
filosóficas acerca do humano, que designou de psicanálise existencial, Sartre
fornecerá uma base teórica para uma compreensão da clínica, de uma clínica
existencial, tanto na relação com o cliente quanto na atitude do terapeuta.
Uma introdução à psicologia fenomenológica e à psicanálise
existencial. A partir de uma abordagem histórica, será estudado o impacto da fenomenologia
na psicologia e a transformação na clínica e na própria função do terapeuta.
Por fim, haverá uma apresentação do método da psicanálise existencial, suas
noções, abordagem clínica e atitude terapêutica.